sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Opináculo

A SAÚDE, OS ÓCULOS E A ÉTICA.

Por Jefferson Cairo*

O serviço público de saúde é deficiente, tanto em Itabuna quanto na maioria das cidades brasileiras. O cidadão sofre para ter um atendimento de qualidade nos postos, nos hospitais e até mesmo nos serviços de saúde a domicilio, efetuados pelos agentes de saúde, que tem como bandeira principal a prevenção.

O SUS, considerado um dos mais perfeitos sistema de saúde pública do mundo não funciona como deveria, tendo como causa principal dessa ineficiência a gestão deficitária dos poderes, principalmente o executivo, a quem cabe a missão de administrar o sistema que é mantido através dos impostos pagos pelos contribuintes. Em geral, a responsabilidade está sempre na má gestão das autoridades “competentes”, porém, recentemente, um caso chamou a atenção em Itabuna e deixou claro que a deficiência está também na falta de comprometimento do funcionalismo, que toma para si uma parte da responsabilidade por essa precariedade. Nesse caso específico, os médicos.

No posto situado no final de linha do bairro São Caetano, em Itabuna, há um programa que atende pessoas hipertensas, diabéticas e com problemas cardíacos. Em sua maioria, esses pacientes são idosos que dependem da constante renovação da receita médica para poder adquirir seus medicamentos, tanto nas farmácias comuns, quanto nas populares. Esse programa se estende aos vários postos de saúde na cidade, os usuários desse sistema são pessoas que madrugam nas portas dos postos para adquirir uma senha que dará acesso ao atendimento. Após a aquisição da senha, esses cidadãos continuarão lá, esperando a chegada do médico, que aparece geralmente por volta das 9 ou 10 horas da manhã.

Há alguns dias, no referido posto, uma situação no mínimo indignante, deixou várias dessas pessoas sem sua medicação. Após horas de espera na fila, um médico pediu que informasse aos cidadãos, que aguardavam pacientemente, que não renovaria as receitas porque não havia levado seus óculos naquele dia. O fato revoltou a todos. Os idosos, dependentes dessas receitas para dar continuidade aos tratamentos e seus respectivos acompanhantes que perderam horas ali na espera.

O médico foi irredutível em sua decisão e as pessoas retornaram às suas casas com um triste saldo. Aqueles que dispusessem de dinheiro (a minoria absoluta, claro) comprariam seus medicamentos em farmácias comuns, os que não dispunham de poder aquisitivo, teriam que aguardar o próximo plantão do médico para regularizarem sua situação, já que só o próprio médico que atende a pessoa pode renovar sua receita e somente com essa receita renovada, o cidadão terá acesso aos medicamentos nas redes populares de distribuição.

Essa condição, arbitrariamente imposta, representa um risco para os referidos cidadãos, visto que tais medicamentos são de uso contínuo e sua interrupção pode causar sérios danos à saúde, isso, para não falar no ato de irresponsabilidade e falta de ética partindo de um profissional que tem como obrigação primordial a preservação da vida humana.

*Jefferson Cairo é Marceneiro e graduando em Geografia pela Universidade Estadual de Santa Cruz.

Um comentário:

  1. "Se o teu olho direito te leva a pecar, arranca-o e lança-o fora de ti"... mas se for a falta de óculos que te levar a pecar, não faz mal, justificado estás diante da Santíssima Folha de Ponto devidamente assinada...

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